O PRATO VAZIO – REALIDADE NA PINTURA DE REGINA DA COSTA VAL

REGINA DA COSTA VAL faz um retrato do povo no que ele tem de mais sensível : a alma. No fantasmagórico dos corpos disformes vemos a aparência do que gastaríamos de ignorar, a realidade da fome e da miséria humanas.

A mulher de seios caídos, desnuda, grita no riso aberto, o escárnio da realidade do vazio do prato. O prato que busca o alimento é o mesmo que oferece (ou mostra) a realidade. Há um mistério profundo na fisionomia destes seres disformes , como que possuidores, guardadores, do segredo da sobrevivência, dentro dessa situação sub-humana. Como se os olhos sensíveis da artista pudessem captar e nos transmitir , como numa fotografia, os que vivem à margem da vida.

Muitas vezes a composição lembra cortes fotográficos.

Podemos observar, nos relacionados ao jogo de futebol, o movimento, a saúde, representados pelos jogadores vistos de uma janela, à distância e o corpo do observador, todo tensão e participação no espetáculo que presencia de fora.

É novamente, imperiosa, a presença dos "à margem", impossibilitados de participarem do jogo. Do jogo da vida.

É a denúncia do estado de milhões de pessoas reduzidas a esse quase-nada que Regina, com sua força de artista, desnuda e nos obriga a refletir. É a aceitação não submissa e consciente da miséria humana nas suas insinuações mais profundas.

É uma pintura que vai além do plástico. É um soco.

ELIANA MOURÃO

Escritora e Artista Plástica