REGINA DA COSTA VAL assina-se simplesmente Costa Val. Talvez aí esteja sua maneira de despistar uma outra profissão, a de médica, que corre paralelamente à pintura. Não se pode dizer que uma interfira na outra, mas a verdade é que a pintura bastante expressionista de Costa Val tem muito a ver com a medicina que ela exerce. A começar pela figura humana. Geralmente os pintores figurativos expressam apenas o sentimento de seus captados, ou par ironizar a sociedade onde vivem ou simplesmente para extravasar uma revolta que todo artista a tem intimamente.

Também desenhista, e das boas, costa Val vai mais além com a sua figuração, muitas vezes apenas um homem e/ou uma mulher, mas ser de uma incontida conformação com a sorte que lhes foi imposta. Embora esquálidos como gente, essas figuras ou retratos desconhecidos nos sorriem com uma incômoda ironia, que nos persegue mesmo quando deles nos afastamos. Aí então ficamos sabendo que autora disseca cada uma dessas personagens naquilo que elas têm de mais dramático, ou seja, o seu interior. É um mergulho nas profundezas do ser humano, a pintura de Costa Val. Não é um trabalho fácil, para decorar paredes, mas uma maneira muito pessoal de transmitir seus sentimentos, como pessoa e como artista.

Os desenhos de Costa Val, entretanto, são bem mais suaves. Enquanto a pintura lhe proporciona trabalhar em grandes dimensões, seus desenhos fluem no branco do papel uma iconografia humana citadina, embora dá cores dramáticas, sem violência, mas com uma sinceridade criativa bastante louvável.

A arte mineira atual, que muitos a identificam com as montanhas que lhes cercam, tem em Costa Val um dos seus mais positivos valores. Unindo desenho e pintura, vai ela aos poucos abrindo seu espaço com indiscutível talento.

Uma pintora, portanto, que todos nós, críticos e espectadores, temos o dever de seguir com a maior das atenções.

GERALDO EDSON DE ANDRADE

Presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte

Rio, agosto de 1986.