Na entrada dos anos oitenta observou-se um movimento de revalorização e retorno da pintura a seus suportes tradicionais - a tela e o cartão – num claro abandono das propostas surgidas nas décadas anteriores, que buscavam exaustivamente suportes não convencionais para manifestar-se. Nesta retomada de suportes ocorre, também, a volta não apenas de um estilo, mas um sentido próprio de encarar a arte: o expressionismo, agora catalogado como neo-expressionismo ou expressionismo selvagem na Alemanha, que o ressurge, e como trans-vanguarda entre os artistas italianos. Da Europa a tendência espalha-se e reativa-se com aqueles que, intuitivamente, já haviam assumido-a como a linguagem dos tempos atuais. Os paralelos entre as sociedades e conflitos que geraram esta corrente e permitiram seu ressurgimento são pertinentes e inevitáveis. Os tempos se repetem e fecha-se um ciclo na arte. A ampla retomada da figuração e do confronto expressivo sobrepõe-se à investigação formal, imperante desde a década de cinqüenta como linguagem por excelência. O homem tornava-se novamente o centro das atenções do artista.

Regina participando do pessimismo geral característico do fim do século faz uma constatação cáustica da comédia humana. Indagações sobre o significado da vida, da pobreza, da dor, e paradoxalmente, da felicidade em meio à desgraça, espalham-se em suas telas. A prioridade do emocional sobre a formalidade estrutural do quadro e a busca da expressão com intensidade, além da envolvência com a realidade que se transforma em pintura, integra-a à corrente neo-expressionista. Partindo da realidade visível pinta individualidades, embora não a tome como modelo imediato. Retrata a essência da vida tal como a viu em determinado momento, demonstrando sua envolvência com a humanidade, que não é meramente reflexo de um estado de espírito mas o contato direto com seus semelhantes. Símbolo e expressão do humano.

O fundo dos quadros é vazio, servindo como cenário ideal para pantomina do grotesco que nos transmite a indignação ácida, transparente no sorriso debochado e, ao mesmo tempo, dolorido desses rostos expressivos. Figuração que celebra o horrível ao lado do belo – meros conceitos formais – dentro de uma temática urbana e contemporânea. Estes seres semi-humanos, semi-monstruosos em sua exuberante humanidade, traduzem um sofrimento espiritual codificado em termos concretos: são formas de denunciar o desamor que os atinge diretamente. "Pinto aquilo que amo" e nesta afirmativa Regina assume que a humanidade é o fator que a motiva. Não pinta apenas aquilo que vê, nem apenas o que sente, mas o que vive em sua alma. A forma de utilizar o pincel é ágil, a tinta é flexível e fluídica, cobrindo nervosamente a superfície do quadro com transições que tomam a forma ágil e viva. A palheta foi reduzida a um pequeno número de tons e a luminosidade das cores é realçada, desprezo pelos detalhes em beneficio do todo.

Para Regina não é absolutamente um mote poético, mas converte-se numa comédia trágica. Na verdade irônica.

Um quadro não é só a expressão de um tema ou idéias, mas uma representação. Não é apenas uma expressão direta de um sentido, mas sim para o sentido do tema.

Regina é, sem duvida, muito corajosa.

MARIA DO CARMO ARANTES – Critica de Arte

Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte e da Associação Internacional de Críticos de Arte.