A contemplação estética de uma obra de Regina da Costa Val parece à primeira vista impossível: como me economizar para o Absoluto, se, De imediato, ela me apresenta momentos da vida precária, o enleio dos instantes cambiantes e flagrantes de situações esquerdas? Regina nos faz com- viver com faces desensofridas – sempre a face humana – que riem risos furtivos, olham olhares escusos, debuxam poses de deboche, ironia ou simplesmente risíveis ou ridículas ... Freqüentemente, são pares de figura, que mesmo quando riem, aliciam inevitavelmente, a nossa compaixão ... Estaria aí o segredo? Servir-se de uma certa comicidade para sinalizar uma tragicidade mais funda e interior que se revela (ou se disfarçam) nessas mãos canhestras, nesse riso desabrido ou nesses olhares de mofa, só aparentemente ridentes? Regina, entre jocosa e humildemente sagaz, traz-nos um pouco do sangue venoso da tragédia. Nossa. De todos nós.

MOACYR LATERZA

Filósofo, Crítico de Arte, Professor de Estética da UFMG

Do "Estado de Minas" – Belo horizonte